quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Frases de Clarice Lispector


“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.”

“Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.”
(A Hora da Estrela)

“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”
(Perto do Coração Selvagem)

“Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.”

“... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia, que, insatisfeita, foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.”

“Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar.”

“Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.”

“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.”

“O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.”

“Gosto do modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão.”

“Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito.”

“Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.”

“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.”

 
 
Clarice Lispector
 
 
 
 

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Seicho-No-Ie... Quantos Sorrisos...


Na dúvida, duvide da dúvida! (No Free Meal [Crônicas do Frank])



No Free Meal

Eu que já estou escaldado em relação as coisas do astral, não duvido mais de nada; mas desconfio que as coisas que percebermos não são nem um terço das coisas que realmente há.

Desconfio, também, dessa coisa programada que é essa estranha relação com o Deus silencioso que esta a nossa volta, mas parece não estar.

Já tentei ouvir a voz Dele, mas Ele sempre fala de um jeito que me deixa com a certeza atrás da orelha e com a fé na ponta da língua. 

Eu queria mesmo era que ele falasse português ou qualquer "ês" comigo. Assim, eu acabaria com essa peleja de achar que Ele é apenas pensamento enrustido de uma mente que precisa desesperadamente acreditar que algo há só para sobreviver.

Pensando nisso criei um koan e compartilho contigo:

Na dúvida, duvide da dúvida!





Frank Oliveira
cronicasdofrank.blogspot.com


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Aïvanhov - Anarquia interior; Momentos encantados


"Alguém diz: «Eu sou o único mestre de mim mesmo, e ninguém tem o direito de impor-me a sua vontade». 

Pobrezinho... É verdade que ele se governa? Quando digo 'ele', subentendo o seu Eu divino. Pois bem, não é certo que seja assim. 

Outros pegaram o seu lugar: forças caóticas, trevosas, paixões que ele deixa livres dentro de si. Porém, o seu verdadeiro Eu é como um prisioneiro trancado em alguma masmorra, é alimentado com alguns farelos de pão e um pouco de água, sofre e está infeliz. 

Quantas pessoas se acham livres e poderosas! Talvez elas consigam, pelo menos por um momento, impor-se a quem as rodeiam ou mesmo a todo um país. Mas a sua liberdade e o seu poder são apenas aparentes. 

Nessas pessoas reina a anarquia, e a anarquia interior é bem mais grave e perigosa do que a anarquia política ou social. É essa anarquia que enche as prisões, as clínicas e os manicômios. Até quando? 

Até o momento em que os seres humanos, conscientes e atentos, conseguirem restabelecer dentro de si a autoridade do princípio divino."


- X -



"A atenção alimenta o amor, alimenta a vida. Então, prestem atenção nas árvores, nas flores que encontram pelo caminho, nas gotas de orvalho, nas borboletas, nos pássaros. 

Vocês também podem compreender esse conselho internamente, pois, dentro de vocês, também existem borboletas que esvoaçam de flor em flor e pássaros que cantam. 

Às vezes, abrindo a sua janela pela manhã, vocês se sentem habitados por presenças invisíveis, semelhantes àquelas que estão presentes nas fábulas, e é como se as gotas de orvalho brilhassem sobre as folhas da sua alma. Estejam atentos para essa sensação, não a deixem desaparecer sem procurar mantê-la ao menos por um momento."

Omraam Mikhaël Aïvanhov

Mensagem recebida em italiano 
da Edizioni Prosveta e traduzida para o
português (brasileiro).

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

SEICHO-NO-IE (Poesia de A. C. H. P. S.)


 
SEICHO-NO-IE

Quantos sorrisos!
Quanta atenção!
Se não é circo,
É vida, então?
Tantos palhaços sem narigão!

Quantos abraços!
Laços de afeto!
Chuva nos traços
Do antigo deserto.
Gente que ousa sentir estar perto.

Quantas palavras,
(Sabedoria)
Bem disfarçadas
De alegria.
Almas meninas de encanto e magia.

Quantas estrelas!
Quanto pulsar!
Basta querê-las
Pra iluminar.
E em cada ser, um céu a morar.




Acabei de compor uma poesia para todos vocês. Porque me inspiraram amor desinteressado, que é a única forma de amar verdadeiramente. Os poucos contatos me permitiram ver a luz da qual tanto se falou. Então, imaginei-os como palhaços alegres do grande circo que é a vida. Palhaços cheios de abraços sinceros, capazes de, com um sorriso, trazerem luz e água ao que antes estava deserto. Repletos de palavras sábias sem a pretensão de ser. Porque a grande sabedoria está na simplicidade com qual se vive. As grandes lições não precisam desse título. Elas se dão em meio a conversas simples, naturais. E assim, em cada um de vocês habita um pouco de Deus, um pouco do céu, tornando-os um pouco estrelas. Repletos de luz e com alma sempre jovem. Feliz por partilhar disso! Obrigada!

(A. C. H. P. S.)

À Espera do Amado Desconhecido (Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera")


Quem é esta mulher,
a sempre triste,
que vive no meu coração?
Quis conquistá-la mas não consegui.

Adornei-a com grinaldas
e cantei em seu louvor...
Por um momento
bailou o sorriso no seu rosto,
mas logo se desvaneceu.
E disse-me cheia de pena:
— A minha alegria não está em ti.

Comprei-lhe argolas preciosas,
abanei-a
com leques recamados de diamantes,
deitei-a em cama de oiro ...
Bateu as pálpebras
como um relâmpago de alegria
que logo se apagou.

E disse-me cheia de pena:
— Não está nessas coisas a minha alegria.

Sentei-a num carro de triunfo,
e passeei-a por toda a terra.
Milhares de corações conquistados
caíram humildes a seus pés,
e as aclamações reboaram pelo céu...
Durante um momento
brilhou o orgulho nos seus olhos,
mas logo se desfez em lágrimas.

E disse cheia de pena:
— Não está na vitória a minha alegria...
Perguntei-lhe:
— Que queres então?
Respondeu-me:
— Espero alguém
que não sei como se chama.
Depois calou-se.

E passa os dias a dizer cheia de pena:

— Quando virá o amado desconhecido?
Quando o conhecerei para sempre?






Rabindranath Tagore,
in "O Coração da Primavera"
Tradução de Manuel Simões



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CAMPANHA: Abrace sinceramente...



Abrace sinceramente... E pare de dizer 'eu te amo' sem sentir profundamente!



Aïvanhov - Cavalos




"Do ponto de vista iniciático, o cavalo é um símbolo da nossa natureza inferior, a nossa personalidade, que se exprime através dos corpos físico, astral e mental. 

O trabalho do discípulo consiste, em primeiro lugar, em exercitar um controle sobre o seu cavalo, ou mais exatamente sobre os seus três cavalos. 

Por isso, ele deve saber como segurar bem as rédeas. O que são essas rédeas? 

São as ligações fluídicas que o cavaleiro estabelece entre os seus três cavalos e si mesmo, para poder dominá-los e guiá-los na direção correta. 

Para que os três cavalos obedeçam e prossigam juntos em harmonia, também é preciso alimentá-los como se convém com alimentos adequados. 

O cavalo físico (o corpo) precisa de um alimento saudável, fresco, e também de exercícios para se tornar resistente. 

O cavalo astral (o coração) precisa de pureza, de amor e de doçura. 

Quanto ao cavalo mental (o intelecto), é preciso alimentá-lo apenas com sabedoria e luz."




Omraam Mikhaël Aïvanhov

Mensagem recebida em italiano 
da Edizioni Prosveta 
e traduzida para o português (brasileiro).

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O Último Negócio (Rabindranath Tagore)

 

Certa manhã
ia eu pelo caminho pedregoso,
quando, de espada desembainhada,
chegou o Rei no seu carro.
Gritei:
— Vendo-me!
O Rei tomou-me pela mão e disse:
— Sou poderoso, posso comprar-te.
Mas de nada lhe serviu o seu poder
e voltou sem mim no seu carro.




As casas estavam fechadas
ao sol do meio dia,
e eu vagueava pelo beco tortuoso
quando um velho
com um saco de oiro às costas
me saiu ao encontro.
Hesitou um momento, e disse:
— Posso comprar-te.
Uma a uma contou as suas moedas.
Mas eu voltei-lhe as costas
e fui-me embora. 




Anoitecia e a sebe do jardim
estava toda florida.
Uma gentil rapariga
apareceu diante de mim, e disse:
— Compro-te com o meu sorriso.
Mas o sorriso empalideceu
e apagou-se nas suas lágrimas.
E regressou outra vez à sombra,
sozinha.




O sol faiscava na areia
e as ondas do mar
quebravam-se caprichosamente.
Um menino estava sentado na praia
brincando com as conchas.
Levantou a cabeça
e, como se me conhecesse, disse:
— Posso comprar-te com nada.
Desde que fiz este negócio a brincar,
sou livre. 

 



Rabindranath Tagore, 
in "O Coração da Primavera"
Tradução de Manuel Simões

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O gênio, esse poder que deslumbra os olhos humanos... (Goethe)

 


O gênio, esse poder que deslumbra os olhos humanos, não é outra coisa senão a perseverança bem disfarçada.


Johann Wolfgang Von Goethe





segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Todo átomo, feliz ou miserável... E outras frases de Jalaluddin Rumi





Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.


Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.

Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.

Vem, se te interessas, posso mostrar-te.


Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?

Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo - um punhado de pó -
vê quão perfeito se tornou!

Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.


Não durmas,
senta com teus pares

A escuridão oculta a água da vida.
Não te apresses, vasculha o escuro.
Os viajantes noturnos estão plenos de luz;
não te afastes pois da companhia de teus pares.


Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
e reflete, como a mina de rubis,
os raios de sol para fora de ti.

A viagem conduzirá a teu ser,
transmutará teu pó em ouro puro.


Sofreste em excesso
por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.

Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.


Oh, dia, levanta! Os átomos dançam,
As almas, loucas de êxtase dançam.
A abóbada celeste, por causa deste Ser, dança,
Ao ouvido te direi aonde a leva sua dança.

 
 
Ontem à noite, confidencialmente, eu disse a um velho sábio:
- Não me esconda nada dos segredos do mundo!
Muito docemente, ele me disse ao ouvido:
- Chut! Podemos compreender, mas não exprimir!

 
 
Quero fugir a cem léguas da razão,
Quero da presença do bem e do mal me liberar.
Detrás do véu existe tanta beleza: lá está meu ser.
Quero me enamorar de mim mesmo, ó vós que não sabeis!


 
 
Eu soube enfim que o amor está ligado a mim.
E eu agarro esta cabeleira de mil tranças.
Embora ontem à noite eu estivesse bêbado da taça,
Hoje, eu sou tal, que a taça se embebeda de mim.

 
 
Ele chegou... Chegou aquele que nunca partiu;
Esta água nunca faltou a este riacho
Ele é a substância do almíscar e nós o seu perfume,
Alguma vez se viu o almíscar separado de seu cheiro?


Se busco meu coração, o encontro em teu quintal,
Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
Se bebo água, quando estou sedento
Vejo na água o reflexo do teu rosto.
 


Sou medido, ao medir teu amor.
Sou levado, ao levar teu amor.
Não posso comer de dia nem dormir de noite.
Para ser teu amigo
Tornei-me meu próprio inimigo.
 


Teu amor me tirou de mim.
De ti, preciso de ti
Noite e dia, eu queimo por ti.
De ti, preciso de ti.
 

Não posso dormir quando estou contigo
por causa de teu amor.
Não posso dormir quando estou sem ti
por causa de meu pranto e gemidos.
Passo as duas noites acordado
mas, que diferença entre uma e outra!
 

Não temos nada além do amor.
Não temos antes, princípio nem fim.
A alma grita e geme dentro de nós:
- Louco, é assim o amor.
Colhe-me, colhe-me, colhe-me!



À noite, pedi a um velho sábio
que me contasse todos os segredos do universo.
Ele murmurou lentamente em meu ouvido:
- Isto não se pode dizer, isto se aprende.



A fé da religião do Amor é diferente.
A embriaguez do vinho do Amor é diferente.
Tudo que aprendes na escola é diferente.
Tudo que aprendes do Amor é diferente.
 
 
- Vem ao jardim na primavera, disseste.
- Aqui estão todas as belezas, o vinho e a luz.
Que posso fazer com tudo isso sem ti?
E, se estás aqui, para que preciso disso?

Jalaluddin Rumi