sábado, 23 de outubro de 2010

SE NÃO FOSSE porque têm cor-de-lua teus olhos... (Pablo Neruda)



VIII

SE NÃO FOSSE porque têm cor-de-lua teus olhos,
de dia com argila, com  trabalho, com fogo,
e aprisionada tens a agilidade do ar,
se não fosse porque uma semana és de âmbar,

se não fosse porque és o momento amarelo
em que o outono sobe pelas trepadeiras
e és ainda o pão que a lua fragrante
elabora passeando sua farinha pelo céu,

oh, bem-amada, eu não te amaria!
Em teu abraço eu abraço o que existe,
a areia, o tempo, a árvore da chuva,

e tudo vive para que eu viva:
sem ir tão longe posso ver tudo:
vejo em tua vida todo o vivente.

(Pablo Neruda  - Cem Sonetos de Amor)