Era uma vez um reino
Distante e iluminado
Habitado por caracóis
De tom meio esverdeado
Até que um dia nasceu
Um Caracol Azulado.
Era uma menina estranha,
Não dançava sempre igual.
Enquanto os caracóis valsavam,
Ela fazia carnaval
E se lambuzava de açúcar,
E os outros só viam sal.
A Caracol azulada
Achava sempre de rir,
Como se o sol no seu rosto
Teimasse em existir.
E só com a dor do outro
Se via o riso esvair.
Ela pensava que o mundo
Devia ser um presente,
E que o amor de verdade
Fazia casa na gente.
Feito a boba Poliana,
Ela jogava contente.
Mas sempre sentiu-se pássaro
No corpo de um caracol,
Peixe que quer o horizonte
Sem preocupar com o anzol,
Coração que busca luz
Na alma de um girassol.
E o reino ficou pequeno
Pra Caracol Azulada.
Com a casinha nas costas,
Ela partiu em jornada,
Sem saber que sem destino
Já estava predestinada.
Foi quando fora de si
Um caramujo avistou.
E sem tempo de resistir,
Dentro de si se instalou.
E o Caracol Azulado
Conheceu o que era amor.
E era uma coisa tão forte,
Que ela própria estranhou.
E o que pensava a menina?
Caramujo Cinzento!
O que buscava na lua?
Caramujo no vento!
Que horas são, Caracol?
Caramujo momento!
Caramujo, Caramujo...
Só ele no pensamento.
Que coisa tão grande é essa
Que ousa um coração?
Que coisa estranha, intensa,
Maior que amor e paixão?
Que troço, que verbo é esse?
Que nova conjugação?
Caramujo, Caramujo
Na antiga solidão.
Mas o Caramujo é assim,
Diferente como ela.
E o Artista, bem, às vezes
Não domina a aquarela.
E ficamos sem saber
Qual o sentido da tela.
E, então, Caracolzinha?
Ainda vai continuar?
E sua vida? E sua luta?
E o que teimava em sonhar?
Caramujo, Caramujo...
E o mundo realizar!
A Caracol hoje sente
Que o Caramujo em si mora.
E o amor que vem do tempo,
O vento não leva embora.
Foi ontem e será sempre
O mesmo amor de agora.
Pra cada sorriso dele,
Uma estrela se assanhou.
E nas pedras do caminho
Há sempre uma nova flor.
Não é poesia, é magia
Que brota junto do amor.
Caramujo de Caracol:
Um sonho que alguém contou.
Carol de Holanda
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